Alguém sabotou!

Conversas de Varanda - Com José Peyroton

Vez por outra ouço esta exclamação vinda dos lábios de um executivo atônito com a “falha imponderável”: - Tinha tudo para dar certo, onde erramos?

Posso sugerir? Alguém sabotou! Vamos por partes: sabotar é uma arte muito antiga, nem tente localizar seu início. Tão antiga que arrisco dizer que já nasce conosco, o que a torna mais próxima e perigosa do que se pensa. Quantas vezes percebeu que você mesmo era o grande sabotador dos seus sonhos, projetos e ideias, os quais foram abortados quando ainda estavam em gestação?

É, conhecemos bem este sabotador.

Segundo o dicionário, o termo “sabotagem” vem da palavra francesa sabot (sapato ou tamanco). Durante as revoltas trabalhistas na França, os empregados costumavam colocar seus tamancos de madeira entre as engrenagens com a finalidade de danificar as máquinas

No entanto, tenho em mente outro tipo de sabotador. Seu “odor” pode ser sentido por aqueles de mente mais treinada. Ele está envolvido em projetos, planejamentos, equipes e mutirões. Todos estão demonstrando concordância e união, mas por alguma “razão que a própria razão desconhece”, como diria Blaise Pascal, a coisa não anda. E sabe por quê? Porque alguém, em uma posição de importância, resolveu não mais colaborar e, como não pode colocar claramente sua renúncia – por medo da perda de prestígio – inicia uma série de atos corrosivos. Coisas simples, como um resmungo anunciando que tem algo errado, mas que ele mesmo não sabe exatamente o quê ou retendo informações relevantes ao projeto.

Sabotadores são covardes. Possuem este ingrediente em comum com aqueles que postam comentários agressivos anonimamente, ou com os que maltratam pessoas que não podem retaliar. Escondem-se nos cantos escuros dos projetos, embaralhando dados pelo simples prazer de ver seus colegas confusos. Deslocam funcionários para determinados lugares e funções e não os deixam a par das armadilhas. Fazem uso de bens da empresa em beneficio próprio, mascarando dados de viagem. Alteram fórmulas químicas e vencimentos de produtos para obter vantagem no mercado. O que os caracteriza é o comportamento velado, escondido, longe das vistas. Eles agem em secreto, ocultando pistas.

Recentemente, passei por dois momentos como este. E seus efeitos ainda perduram em minha mente. O último foi de uma empresa que decidiu realizar um treinamento operacional e comportamental, com 40 horas de duração. Certo dia, já no final da fase comportamental, os participantes entraram com uma fisionomia de desesperança. Ao perguntar o motivo, sou informado que no dia anterior, o Supervisor da área havia dito aos funcionários que eles podiam ir ao treinamento mas que no final já saberiam que, sob seu controle, nada seria alterado. Para piorar, este Supervisor era admirado e considerado essencial pelo diretor da empresa, o qual havia contratado o treinamento. Sim, o sabotador pode estar em todos os níveis da empresa.

A outra experiência foi a de um empresário que contratou meus serviços de Consultor. Ele procurava, por todos os meios, dificultar meu trabalho e fazer com que as descobertas e os ajustes apresentados fossem neutralizados. Numa conversa, após vários meses de tentativas sem nenhum resultado, eu o confrontei em relação a sua atitude. A resposta veio em forma de pergunta: “por que você demorou tanto para perceber?”. Simplesmente, ele havia contratado um Consultor para apenas apresentar-se como empresário moderno e preocupado com seus funcionários.

Alguém sabotou!

José Peyroton
Consultor Organizacional em desenvolvimento humano
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